São 4:30 da manhã quando ela toma apressadamente um banho, e sem tomar o pequeno almoço veste algo completamente ao acaso no meio do universo de confusão em que está o seu quarto (e não só) e sai porta fora. Nas ruas não se vê viva alma, mas tal facto não é algo que a incomode agora, na verdade agradece não ter que explicar a ninguém o que faz com um ténis diferente em cada pé e o que aconteceu para estar com papos enormesenquadrando o vermelho dos seus olhos.
Não tarda estará em casa e ninguém vai notar pela sua ausencia. Vão sentar-se à mesa para os 3 minutos de total “enfardar” para cada um fugir o mais depressa que consegue de novo para a sua toca que nem ratos. Talvez falem um bocado, mais tarde. Ou talvez se passe um dia totalmente igual aos outros todos.
Enquanto corre e sente o vento a bater na sua cara pensa no quanto as coisas se deterioram: as pessoas, os sentimentos, os momentos, os objectos, o tempo... Na verdade pensa no quanto pouco fez para impedir que as coisas se deteriorassem daquela maneira e terminassem, e no quanto pode fazer menos ainda para agarrar este comboio que acabou de descarrilar mesmo a sua frente.
Foi tanto o esforço para não ter que explicar, tanto o esforço para fingir, foi tanto o esforço para manter a sua máscara... apesar de mesmo ela saber que não mantinha a máscara para mentir mas para esconder vunerabilidades, as suas próprias vunerabilidades. Agora repetia interiormente a frase “a culpa foi minha” enquanto deixava que as lágrimas lhe corressem pela face finalmente aceitando que a possibilidade de perder era mais dolorosa que a possibilidade de ter tentado.
Se por um lado sentia que chorava por tristeza, por outro sabia que o fazia por medo e, principalmente, por vergonha. Vergonha de sempre ter achado que lutar pela sua própria felicidade não valia a pena quando poría em causa outras pessoas. E ela continuva a guardar aquele segredo; aquele segredo que fez com que não podesse agarrar, não o podesse agarrar...
“Nunca cheguei a explicar porque agi assim, mesmo sabendo que queria o mesmo que tu tanto ou mais do que tu; provavelmente também nunca irei explicar porque acho que não continuaríamos amigos. Só quero dizer que me fazes falta apesar de nunca te ter realmente tido. Sê feliz. Realmente feliz.”
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