segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sê feliz


São 4:30 da manhã quando ela toma apressadamente um banho, e sem tomar o pequeno almoço veste algo completamente ao acaso no meio do universo de confusão em que está o seu quarto (e não só) e sai porta fora. Nas ruas não se vê viva alma, mas tal facto não é algo que a incomode agora, na verdade agradece não ter que explicar a ninguém o que faz com um ténis diferente em cada pé e o que aconteceu para estar com papos enormesenquadrando o vermelho dos seus olhos.
Não tarda estará em casa e ninguém vai notar pela sua ausencia. Vão sentar-se à mesa para os 3 minutos de total “enfardar” para cada um fugir o mais depressa que consegue de novo para a sua toca que nem ratos. Talvez falem um bocado, mais tarde. Ou talvez se passe um dia totalmente igual aos outros todos.
Enquanto corre e sente o vento a bater na sua cara pensa no quanto as coisas se deterioram: as pessoas, os sentimentos, os momentos, os objectos, o tempo... Na verdade pensa no quanto pouco fez para impedir que as coisas se deteriorassem daquela maneira e terminassem, e no quanto pode fazer menos ainda para agarrar este comboio que acabou de descarrilar mesmo a sua frente.
Foi tanto o esforço para não ter que explicar, tanto o esforço para fingir, foi tanto o esforço para manter a sua máscara... apesar de mesmo ela saber que não mantinha a máscara para mentir mas para esconder vunerabilidades, as suas próprias vunerabilidades. Agora repetia interiormente a frase “a culpa foi minha” enquanto deixava que as lágrimas lhe corressem pela face finalmente aceitando que a possibilidade de perder era mais dolorosa que a possibilidade de ter tentado.
Se por um lado sentia que chorava por tristeza, por outro sabia que o fazia por medo e, principalmente, por vergonha. Vergonha de sempre ter achado que lutar pela sua própria felicidade não valia a pena quando poría em causa outras pessoas. E ela continuva a guardar aquele segredo; aquele segredo que fez com que não podesse agarrar, não o podesse agarrar...
“Nunca cheguei a explicar porque agi assim, mesmo sabendo que queria o mesmo que tu tanto ou mais do que tu; provavelmente também nunca irei explicar porque acho que não continuaríamos amigos. Só quero dizer que me fazes falta apesar de nunca te ter realmente tido. Sê feliz. Realmente feliz.”

sexta-feira, 9 de março de 2012

O meu mais sincero: Amo-te

Depois de mais uma má notícia chega aquele momento em que o esforço enorme que fazes para continuar com a fachada de que as coisas ainda podem voltar ao que eram, descai completamente. Leva com ele lágrimas e gritos mudos como mostra da derrota de um cérebro que deixou de fazer um esforço para tentar inventar novas desculpas e novas razões para fazer acreditar que ainda há uma alternativa que eu queira ouvir neste momento.

Perdi.

Outra vez vou ter que dizer que perdi. (Outra vez!...) Ainda que ela consiga vencer a luta que trava agora para ter a sua propria vida de volta, a medicina não aceita que eu receba de volta a minha amiga. A minha amiga que um dia me escreveu a dizer que me invejava e mesmo tempo sentia orgulho em mim, essa que eu nunca cheguei a dizer que eu sinto imenso orgulho das decições que ela tomou na vida e na mulher linda que se tornou, essa mesmo!, essa eu nunca vou ter de volta. Aquela amiga que eu partilhava muito mais do que o seu gosto para música e filmes, aquela com que partilhei anos e anos da minha vida, aquela a quem eu contei segredos e da qual eu ouvi multiplas barbaridades das quais me ria, aquela mesmo!... Essa. Essa eu sei agora, porque a medicina e as estatísticas se negam a fazer milagres, que nunca mais vou ter.

E eu só espero conseguir aprender a amar esta nova com a mesma força com que amei e amo aquela que com quem cresci.

Orgulho-me de ti amiga.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Com o devido respeito: merda, foda-se, caralho.

Porque é que um segundo pode mudar o rumo de tudo? Uma distração pode fazer com que vejas o mundo de pantanas e um dia quente como verão te saiba a gélido? Porque é que me dizem que a única coisa que se pode fazer agora é rezar quando isso para mim só significa que as pessoas estão tão desesperadas e com a esperança tão ténua que me pedem para fazer a coisa em que eu menos acredito? Porque é que parece que amanhã vai ser diferente, que toda a gente só pode estar a mentir e a exagerar no que são apenas uns aranhões na cara? Porque é que até eu começo a achar que a única coisa que algum crente pode fazer agora é rezar? Eu cá vou esperar... esperar por receber um aviso no telemovel a dizer que a mensagem que mandei a dizer “eu gosto muito de ti” foi entregue.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Como Fernando Pessoa já sabia, é só cansaço.

Engano-me com coisas efémeras. Com o prazer adicional de ter aquilo que se quer de maneira rápida, ainda que mais rapidamente ainda se deixe de o ter. É como sentir imensa sede mas só poder beber um gole de água aqui e ali: a sede nunca fica realmente saciada (mas também não se nega a possibilidade de enganar a fome...).

E com a fome constante vem o cansaço. Cansaço de nada. Cansaço de tudo. Cansaço de não saber exactamente do que é que se está à espera para fazer e mudar alguma coisa. Cansaço que o sangue corra demasiado depressa mas nunca faça com que hormonas suficientes digam ao cérebro o que todo o corpo já sente.

Cansaço do coração ser cego e surdo, mas nunca mais ficar mudo. É só cansaço.