Toda a gente fala que para haver uma real evolução tem que se olhar para o futuro. Que só uma corrida fatigante e desalmada em direcção a um objectivo definido no desconhecido pode criar o divertimento oportuno capaz de abrir uma grande porta no futuro.
Pois eu quero começar a correr já!
Estou farta de olhar para as portas do passado e esperar que elas se voltem a abrir. Estou farta de correr novamente para oportunidades que já vivi e já deram errado, e a única coisa que as coloca novamente na mira do meu futuro é o facto de ainda haver uma impotente e misera esperança que possam dar certo. (Tudo isto seja, talvez, pela minha vontade de provar a mim mesma que não perdi tempo naquelas tentativas passadas…).
Verdade seja dita que eu não costumo remoer nos erros dos outros, mas nos meus… - como diria a minha avó, ‘Deus nos livre’ (e se cada vez que ela repetisse isso desse resultado esperado já não haveria catástrofes naturais nem falta de dinheiro para ninguém…). Tenho uma tendência quase doentia de meter os meus erros como uma imaculada colecção no meu museu. Isto para que saiba sempre todos os passos mal dados em que apostei e repense constante e incessantemente em razões que justificassem tão infantil escolha. (Há quem lhe chame masoquismo, disseram-me um dia).
Estou pronta agora para declarar que me senti obrigada a repensar na minha maneira de viver as coisas passadas assim que notei que uma das portas que eu mais esperava que voltasse a abrir fechou completamente. Declaro também que nunca esteve realmente aberta. Esteve sempre meio aberta meio fechada. Na realidade aquela porta estava sempre meio aberta para que se visse o que estava lá dentro e se desejasse que não estivesse sempre meio fechada o suficiente para que nenhum corpo pudesse entrar (pelo menos o meu, mas normalmente existem mais portas para se ter acesso ao mesmo).
Algumas portas do passado voltaram a abrir.
Algumas portas eu já voltei a fechar.
E agora chega o momento em que deixo de ter medo de abrir novas portas que nunca conheci. O momento em que deixo de ter medo do modernismo que é atirar-me de cabeça para colorido desconhecido do futuro deixando para trás o poeirento passado que conheço tão bem que esqueço que é escuro e que as cores que vejo são as que eu sei que outrora elas foram, são parte da minha memória visual tão revisitada.
Pena é que, para apostar assim, eu tenha que me desligar de memórias, de papeis rabiscados ao som de uma canção, de noites de chuva, de sorrisos, de sonhos, de lágrimas que um dia caíram no mesmo sentido ainda que em localizações geográficas diametralmente opostas, de mim de franja e cabelo liso, de mim. Ou do que eu achava que eu era.