quinta-feira, 18 de novembro de 2010

E se não houver Cavalo de Tróia?

Chove lá fora e ainda a água não molhou a terra e já os meus pensamentos divagam. Talvez a chuva não esteja para lá da minha porta, talvez haja uma tempestade mais perto de mim do que a minha mão da minha testa. (E dói-me a cabeça, dói-me tanto a cabeça).

Relembro (…)

Relembro agora as coisas que nunca tive e chove.

Relembro agora as coisas que tive e faz saudade.

(Que saudade!...).

Saudade da altura em que sentia que te podia dizer qualquer coisa; saudade do dia em que sentia que podia chorar ao teu lado e explicar-te o que estava a acontecer comigo, que houve um dia em que, sentada ao colo dele lhe puxei um caracol da cabeça e lhe disse que o adorava antes que o caracol voltasse a enrolar para a sua nuca. E ele, nesse dia como em tantos outros, retribuiu com um olhar luminoso e um sorriso que parava toda e qualquer chuva. Agora são só lembranças daquelas que não tento esquecer por serem tão belas de serem relembradas, mas tão cruéis por não poderem ser revividas.

Mãe, tenho medo que chova e tenho medo que faça sol. Agora tenho medo que faça sol porque já sei que o sol não brilha para sempre e que ele se apaga e fica enublado e chove e eclipsa. Mãe, e se não houver Cavalo de Tróia que tape o Sol mal eu adormeça? E se eu tiver medo de abrir a porta ao Cavalo por o achar tão belo, por ter medo de o perder ou dele se tornar outra coisa completamente diferente? Mãe, e se não houver Cavalo de Tróia e eu agora, com medo, deixar o cavalo fugir?


*

‘Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life’
- The Fray

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