Apercebi-me que não é à toa que se fala numa ligação, pouco científica, entre rugas e sabedoria quando o teu rosto rasgado de linhas enterradas como as tuas ideias velhas esboçou um pequeno riso. ‘Gastas demasiada energia em explicar tudo e a tentar passar o teu conhecimento e ideias aos outros. Às vezes é bom deixar as pessoas caírem em vez de tentares explicar que estão a prestes a tropeçar’ disseste. Tentei fazer-te compreender que gostava demasiado dessas pessoas de que falavas para deixar que elas caíssem e se magoassem. Que iria fazer tudo o que pudesse para não ter que as levantar depois da queda e para, em vez disso, tentar impedir que houvesse sequer a possibilidade de ficarem com um mínimo de mazelas. Gesticulei que não me sentia capaz de desistir de ninguém de quem gostava. (Antes desistir de mim…).
Calmamente concluíste com um seco ‘tens razão’. Tinha?! E para mim a questão agora nem era tanto se tinha ou não razão, era desde quando é que admitias que não eras tu, meu velho teimoso, que tinhas a razão do teu lado poeirento. ‘Quis que me dissesses isso mesmo. Quis que me contradissesses como, e não apelando à tua originalidade de pessoa nova e com demasiadas ideias, o fazes sempre. Fi-lo para que tu mesmo pudesses ouvir porque é que não podes desistir. E ao contrário do que disseste, nem mesmo de ti; se desistires de ti não terás força nem a mínima possibilidade de lutar pelos outros. Às vezes exteriorizar ideias, razões e sentimentos, torna-os mais reais, e era isso que eu queria que acontecesse para que te ouvisses a ti mesma. (Devias fazê-lo mais vezes minha pequena). Se não o fizesse por esta razão, fazia-o simplesmente para te ouvir a debitar argumentos para me fazer concordar com a tua opinião de novata. Agora não te habitues que concordar contigo não tem tanta piada!’. Revirei os olhos e disse apenas que eras um velho vingativo. Tu sorriste e eu odiei ver que, mais uma vez, e quando ironicamente era eu que tinha razão, acabara por concordar contigo.
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'É sempre preciso criar pó para deixar polido’
mushroom’zeni
(23.Janeiro.2010)